terça-feira, outubro 24

Entrevista com James Fee do Spatially Adjusted - Versão em Português

Depois de um longo e tenebroso inverno eu estou de volta com esse blog. Por algum período eu realmente acreditei que não conseguiria retomar este projeto. Desde o dia do último post muitas coisas mudaram em minha vida, dentre elas posso destacar o nascimento de meu primeiro filho, minha mudança para Belo Horizonte - MG e consequentemente meu retorno para a Geoexplore Consultoria e Serviços. Após todas essas mudanças acho que estou me equilibrando a essa nova ordem.

O post de hoje é uma dívida antiga. Esse post corresponde a tradução da entrevista concedida por James Fee. Essa entrevista continua muito atual e eu concordo com muitas das idéias apresentadas por ele. No próximo post vou escrever sobre os projetos para esses últimos meses do ano. Já tenho o aceite do Dr. Clodoveu Davis para um entrevista e material para a publicação de dois tutoriais: 1) Sobre a geração de bacias hidrográficas de forma automática, utilizando-se as imagens SRTM e a extensão de hidrologia da ESRI, e, 2) Geração de imagens SRTM com pixel de 30 metros utiliazando-se a ferramenta open source FWTools.

Estou de volta e apresento a versão em Português da entrevista concedida por James Fee. Agradeço a tradução e revisão desta entrevista a Everton Caio da fábrica de softwares da Geoexplore. Muito obrigado Caquinho!

ResenhaGIS: James, um oi do Brasil. Antes de tudo, muito obrigado pela oportunidade desta entrevista. O que motivou James Fee a trabalhar com GIS e quais as motivações para criar o Spatially Adjusted? Você acha que o Spatially Adjusted poderia se tornar uma referência a este novo mundo de publicações (“nova mídia”, como, web, podcasts e blogs)?

James Fee: Eu comecei a me envolver com GIS quando me graduei na faculdade. Possuo um bacharel em geografia e estava trabalhando em um dos meus projetos finais de cartografia quando vi alguém entregar um projeto que não foi desenhado com uma caneta ou tinta (ou mesmo Ilustrator ou Freehand). Eu perguntei como ele criou tal mapa e ele me disse que era com um programa chamado ArcInfo. Eu decidi então que eu tinha que aprender mais sobre o programa. Eu consegui um emprego em uma cidade aqui no Arizona trabalhando com ArcInfo e versões iniciais do Arcview. Após algum tempo eu comecei a me envolver mais com desenvolvimento GIS, primeiro com AMLs e mais tarde com Visual Basic e .NET a medida que a ESRI foi entrando nesses mercados.

Quanto a razão para iniciar meu blog, realmente vem da tentativa de ter um melhor entendimento do mundo GIS de código aberto (open source). Eu imaginei que se eu escrevesse minhas questões, pessoas me ajudariam (e elas ajudaram). No fim, nossa empresa acabou não seguindo a rota de código aberto (open source) e decidimos focar novamente na ESRI, então acabei escrevendo sobre ESRI no blog. Honestamente não fazia idéia que tantas pessoas algum dia achariam meu blog interessante, mas estou feliz por tantos acharem. Eu acho que na época que comecei este blog, a maioria dos portais GIS e “blogs” existentes estavam cheios de anúncios e artigos da imprensa e não cheios do que um profissional GIS realmente estaria interessado. Eu apenas escrevo sobre o que me interessa e sobre o que penso sobre a indústria geoespacial e isso parece interessar as pessoas. Meu blog tem sido um sucesso e estou feliz por ver muito mais bloggers no Planet Geospatial. Costumava ser tão difícil se manter atualizado com notícias sobre GIS a dois anos atrás, mas agora todos os dias meu agregador RSS está cheio de notícias interessantes e comentários de outros profissionais de GIS. Uma mudança e tanto dos velhos tempos da mídia impressa.

RG: O que você acha que motivou a companhia a abandonar a rota do código aberto (open source)? Você acredita que os projetos de código aberto (open source) são confiáveis, você sabe, que eles estão prontos para serem usados num projeto grande?

JF: Nós abandonamos o código aberto (open source) porque nossos clientes não queriam mudar do software da ESRI. Pensamos que eles mudariam pelo custo de licenciamento reduzido, mas eles sentiram que a “rota mais segura” seria ficar com a ESRI. Nós nunca insistimos muito nessa questão e continuamos a empregar código aberto (open source) onde faz sentido, mas nosso foco permanece na ESRI e provavelmente continuará por muitos anos.
Eu acho que o código aberto (open source) provou, nos últimos anos, como sendo capaz de lidar com grandes projetos corporativos, mas claro que isso depende de cada projeto e quão maduro ele está. Eu creio que o código aberto (open source) entrará no mercado profissional GIS, mas isto levará tempo a medida que as pessoas sejam educadas neste tipo de tecnologia e as ferramentas se tornem mais maduras. Muitos projetos já estão aí e eu acho que a recém criada fundação (Open Source Geospatial Foundation) ajudará outros a se tornarem mais organizados.

RG: Nós temos dois brasileiros participando na fundação, eles estão muito confiantes que o “movimento” ou “industria” geoespacial de código aberto (open source) ganhará projeção com a fundação. Eu gostaria de saber qual a sua impressão sobre a OSGeo? Como você vê a ER Mapper como patrocinadora principal do desenvolvimento das bibliotecas GDAL/ORG e a Autodesk com o MapGuide Open source?

JF: Para ser honesto eu não tenho acompanhado a OSGeo tanto quanto eu provavelmente deveria, mas pelo que lí e escutei eles têm feito um ótimo trabalho em se organizar. Tenho tentado acompanhar as listas de e-mail, mas tem sido dificil devido ao quanto estou ocupado. Eu de certa forma gostaria que eles escrevessem sobre isso em blogs ao invéz de usar wiki, mas está bem.

Na verdade eu não tenho opinião sobre a ER Mapper ou a Autodesk apoiando os sistemas de código aberto (open source). As vezes eu acho uma sábia decisão de mercado seguir o código aberto (open source), parece que pelo menos no caso da Autodesk essa foi uma boa idéia, já que o MapGuide realmente deixou de ser uma opção para muitas pessoas. Eu acho que se envolver com a OSGeo no início fará muito sentido nos negócios para aquelas empresas que aderiram ao movimento e aqueles que ainda não se envolveram ficarão de fora observando, a medida que todo o GIS de código aberto (open source) comece a se solidificar como negócio. Interoperabilidade é a chave para o futuro e plataformas fechadas irão morrer devagar (proprietárias ou não).

RG: Muitos SGBDs estão começando a armazenar objetos geométricos e estas aplicações estão crescendo em funcionalidades espaciais. Hoje em dia é possível desenvolver um WEBGIS baseado em uma estrutura de banco de dados espacial. Você acredita que as plataformas GIS (ArcView, Mapinfo or Geomedia) como são hoje estão próximos de morrer?

JF: Eu acho que o movimento geral é em direção ao GIS baseado em servidor. Eu não creio que o GIS desktop desaparecerá, mas clientes corporativos vão provavelmente migrar muito do seu geoprocessamento para servidores, permitindo as empresas gastarem muito menos dinheiro em cópias completas do ArcGIS (por exemplo) na mesa de cada um. Um cliente como o Google Earth pode mostrar dados de um servidor, o único link que falta é um framework para programar tarefas dentro desses clientes que conectariam aos servidores. Eu acho que o ArcGIS Explorer possa ser este cliente, mas não estamos lá ainda.

Claro que sempre haverá os pequenos segmentos GIS que não podem bancar os custos altos de um servidor GIS (dado ao pequeno número de funcionários que eles possuem), então, aplicações “stand alone” para GIS desktop como Geomedia ou ArcGIS estarão sempre por perto.

RG: Eu realmente acredito nisto. Na rota do Google Earth, Yahoo! Maps e Microsoft Virtual Earth, porque a ESRI é tão lenta em lançar o ArcGIS Explorer para competir com essas aplicações? Existem outras diferenças entre o ArcGIS Explorer e o “padrão” Google Earth?

JF: Muitas pessoas acham que a ESRI está sendo lenta em lançar o ArcGIS Explorer (AGX). Eu não posso dizer nada sobre problemas especificos que a ESRI possa estar tendo (porque eu não sei), mas eu acho que a agenda tem mais a ver com o lançamento do ArcGIS 9.2 Beta do que qualquer coisa que a equipe do AGX possa estar fazendo. Isto nos leva ao ponto do porque o AGX é importante, dada a enorma base instalada do Google Earth (GE).

Primeiro, AGX é uma aplicação similar ao GE já que os dois são “aplicações do globo”, mas é ai que eles começam a se diferenciar. Pra começar, o Google Earth é gratis para uso pessoal, você deve comprar uma versão pro para usar para trabalho. Isso o torna muito dificil para consultores como nós aplicar soluções para nossos clientes (que podem ter GE em seus computadores, mas apenas uma licença pessoal). O AGX será grátis para qualquer um fazer download e instalar (consumidor ou pro), então, você não precisará se preocupar com que tipo de licença as pessoas têm. O GE inclui um grande acervo de imagens do mundo e eu creio que a ESRI não vai nem começar a tentar competir nesse nível. A ESRI anunciou no DEV Summit que teriam imagems de 1m disponíveis para os EUA, mas eles não anunciaram se as imagens para outros paises estarão disponíveis. Então, se você gosta de visitar lugares, tenho certeza que o GE sempre baterá o AGX, mas isto está OK por causa das próximas grandes diferenças. O AGX pode se conectar aos serviços ArcGIS Server, ArcIMS e WMS, então, mesmo se você estiver trabalhando em uma área que não tem boa cobertura, você pode configurar o seu próprio mapserver web (mesmo o UMN Mapserver) para preencher essas lacunas. O AGX terá suporte completo a KML/KMZ para que você seja capaz de usar a enorme seleção de arquivos existentes. Outro grande recurso para o AGX é o novo framework de tarefas. A ESRI mostrou algumas demos no seu website principal, mostrando como você pode criar tarefas dentro do AGX (usando .NET), permitindo executar analises GIS nas suas camadas de dados. O que isto significa é que se você tiver um servidor backend ESRI, você será capaz de aproveitar as capacidades desse servidor e permitir que usuários do AGX executarem suas analises de dentro do AGX. As possibilidades disso são infinitas e muito mais usuários poderão ter a vantagem de um profissional GIS sem precisar pagar por um sistema GIS completo. Mais ainda, eles estarão utilixando uma interface gráfica de usuário que é similar tanto ao GE quanto as aplicações ArcGIS existentes, então, tudo será muito familiar.

Eu creio que você olha para o AGX como competidor do GE, nesse caso eu creio que já é tarde para o AGX passar o Google. Mas não acho que a ESRI olhe para o AGX dessa maneira e ele não está no mesmo mercado consumidor que a Google compete. O AGX é uma ferramenta que levará a aplicação global para uma direção diferente do GE e se espera que para o benefício dos profissionais GIS.

RG: James, esta é a nossa ultima pergunta e eu estou muito feliz com esta entrevista e com todas as suas respostas. É a minha primeira entrevista e na minha opinião você está fazendo um ótimo trabalho com o Spatially Adjusted e com o Planet Geospatial. Continue o bom trabalho. Você poderia nos dar uma ultima opinião sobre o “futuro” da indústria GIS – como ela será nos proximos 4 anos?

JF: Eu acho que veremos um movimento de volta ao “GIS do lado servidor” e longe do GIS desktop. GIS não está mais confinado a uma ou duas pessoas em um grupo. Todos precisam de acesso para executar os mesmos tipos de analises que você costumava precisar que um profissional GIS executasse. Mas ao mesmo tempo as ferramentas precisam se tornar mais simples. Eu acho que nós vimos esse começo com o ArcView GIS 3.x, depois com o ArcGIS e agora com o Google Earth. Eventualmente, nós nem mesmo precisaremos de uma applicação stand alone tipo Google Earth, mas apenas um navegador web e um mouse.

Claro que o mundo ainda precisará de profissionais para manter estes sistemas funcionando, desenvolver datasets e modelos necessários para executar analises GIS.

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